Voltando, vamos relembrar o que vimos no nosso 5º encontro. Falamos de texto e de textualidade, sempre retomando aquela concepção discursiva ou sociointeracionista da linguagem. Portanto, texto pode ser o verbal escrito ou oral, mas, também, pode ser o imagético, o audiovisual ou de outra linguagem existente por aí. No contexto da linguagem verbal, a textualidade se sustenta sob alguns critérios básicos que são o 'cotexto' e o 'contexto'. Nesse momento, prestemos mais atenção à cotextualidade, que se forma a partir da 'coesão' e da 'coerência'. Vejamos um quadro ilustrativo para entender um pouco mais a estrutura da textualidade e seus critérios:
Então, a cotextualidade seria o conjunto de elementos internos ao texto que organizam e sustentam as ideias de acordo com o gênero e o tipo textual selecionado pelo autor. Já a contextualidade, que veremos no próximo encontro, seria o conjunto de elementos situacionais ou contextuais do texto, o que não quer dizer que se encontra fora do texto.
Vejamos um pouco sobre a coesão:
Segundo Irandé Antunes (2005, p. 47), uma estudiosa do assunto, a coesão seria a "(...) propriedade pela qual se cria e se sinaliza toda espécie de ligação, de laço, que dá ao texto unidade de sentido ou unidade temática." Ou seja, trata-se de elementos linguísticos que ajudam a unir as ideias e as partes do texto, a exemplo dos parágrafos, dos períodos e das frases. Esses elementos coesivos se subdividem em dois grandes blocos que são as 'coesões referenciais' e as 'coesões sequenciais'.
Vejamos alguns exemplos de coesão referencial de substituição (anáforas e catáforas):
Ex.1.: Serra perdeu a eleição. Mas ele irá se candidatar na próxima.
(o pronome "ele" retoma o substantivo próprio "Serra" mencionado no período anterior, por isso, é considerado um termo anafórico esse pronome).
Ex.2.: Vou te dar um presente no fim do ano minha filha: uma linda bicicleta.
(o artigo e o substantivo "um presente" estão antecipando o que será mencionado na frase final "uma linda bicicleta", por isso, "um presente" é catafórico).
Agora, alguns exemplos de coesões sequenciais, como os termos conectivos:
Ex.3.: A proposta era muito boa. Ele não poderia dispensar. Contudo, Manoel não aceitou.
(a conjunção "contudo" expressa uma contradição, segundo a lógica apresentada pelas orações anteriores. Esse termo faz a conexão das ideias, mesmo que contrárias).
Ex.4.: Esse menino se aplicou bastante esse ano. Seu desempenho foi bem melhor do que o do ano passado.
(o termo formado pela preposição e o pronome "do que" expressam uma comparação entre as ideias e os períodos).
Opa! Legal! Agora, vamos falar sobre a coerência:
Novamente, segundo Antunes (2005, p. 35-36, grifo do autor), a coerência trata-se de "(...) encadeamento de sentido, a convergência conceitual, aquela que confere ao texto interpretabilidade - local de global e lhe dá a unidade de sentido que está subjacente à combinação linear e superficial dos elementos presentes ou pressupostos. A coerência vai além do elemento propriamente linguístico da comunicação verbal, [...] decorre não só dos traços linguísticos do texto, mas também de outros elementos constituintes da situação comunicativa."
Isso quer dizer que a coerência está mais no nível semântico, no nível dos sentidos que os elementos coesivos ajudam a unir para construir o todo do texto. Dessa forma, a cotextualidade funciona junto e não de forma separada, pois a coesão precisa ter coerência e a coerência precisa da coesão, sempre.
Vejamos um exemplo numa cena do filme Duro aprendizado, na qual a personagem que lê o texto do seu colega faz um comentário acerca da importância da coerência para as ideias do texto fazerem sentido no momento da leitura.
Para haver interação entre autor e leitor, a partir e por meio do texto, é preciso que esteja bem coeso e coerente.
Fiquemos com o exemplo de texto coerente de Sônia Gabriel, intitulado Observadores, que lemos e discutimos no encontro.
Referências:
ANTUNES,
I. Lutar
com as palavras:
coesão e coerência. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
MARCUSCHI,
L. A. Produção
textual, análise de gêneros e compreensão. São
Paulo: Parábola Editorial, 2008
ORLANDI,
E.
P.
Discurso e leitura. São
Paulo: Cortez; Campinas-SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1993.
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